quinta-feira, 29 de março de 2012


Jiu-jitsu, ou jiu-jítsu (em japonês柔術transl. , "suavidade", "brandura", e jutsu, "arte", "técnica"),[a] é uma arte marcial japonesa, que utiliza como principais técnicas golpes de alavancas, torções e pressões para derrubar e dominar um oponente. Sua origem, como sucede com quase todas as artes marciais vetustas, não pode ser apontada com total certeza, o que se sabe in claris é que seu principal ambiente de desenvolvimeno e refino foi nas escolas de samurais, a casta guerreira do Japão.[1][2] Contudo, outros levantam a hipótese de ser originária, posto que por influência apenas, desde a Índia.[3]
A finalidade e corolário de sua criação foi a situação fáctica na qual, no campo de batalha ou durante qualquer enfrentamento, um samurai pode acabar sem suas espadas ou lanças, daí que ele precisava de um método de defesa. Precipuamente, os golpes concentram-se em projeções (nage waza) e luxações e torções (kansetsu waza), haja vista que os golpes traumáticos não se mostravam eficazes, pois, no ambiente de luta, os samurais encaminhavam-se às batalhas usando de armaduras. A bem da verdade, o guerreiro feudal japonês deveria estudar inúmeras artes marciais, porquanto deveria estar preparado para quaisquer circunstâncias, pois deveria defender não somente sua vida mas a de seu daimiô.[4]
romaji jūjutsu advém dos kanji  (?), que quer dizer suave ou macio, e jutsu (?), arte ou ofício. Isso implica dizer que a tal «arte suave» nasceu como contraponto às artes rígidas, que eram executadas com a espada, kenjutsu, por exemplo. E, a despeito de ser reconhecida como utilizadora de técnicas de agarramento, o seu repetório de golpes de controle (gyaku waza) e submissão (katame waza) incluem também golpes traumáticos (ate waza). O que vai dizer quais golpes serão estudados será a escola, ou linhagem, que se aprende.[5]
Basicamente, no jiu-jitsu usa-se a força (própria e, quando possível, do próprio adversário) em alavancas, o que possibilita que um lutador, mesmo sendo menor que o oponente, consiga vencer. No chão, com as técnicas de estrangulamento e pressão sobre articulações, é possível submeter o adversário fazendo-o desistir da luta (competitivamente), ou (em luta real) fazendo-o desmaiar ou quebrando-lhe uma articulação.
O jiu-jitsu histórico, da mesma forma que sucedeu com o chuan fa chinês e com o caratê oquinauense, ramificou-se numa miríade de estilos, que vão do Takenuchi-ryu, que dá ênfase a socos e chutes e muito se assemelha ao caratê, ao Daito-ryu, que privilegia golpes de controlo do adversário e das energias em jogo e foi dar origem ao aiquidô.[6]
No decorrer desse processo evolutivo, a arte marcial foi incorporando novos caracteres e se aproximando mais do lado filosófico, que no passado fez surgir na cultura dos samurai uma série de conceitos e rituais, e acabou por dar origem a um estilo moderno, o Kodokan jujutsu, que logo se tornou o judô, substituindo okanji «jutsu» por «dō» (caminho), ou tao, em chinês.[7]
A arte marcial conhecida como jujutsu não foi assim chamada senão por volta do século XVII, quando o termo foi composto para designar no Japão aquelas habilidades de luta que não envolviam a utilização de armas. Nesse contexto, a denominação acabou por reunir sob sua umbrela uma grande variedade de estilos de combate, que se tinham desenvolvido até aquele momento. Deste modo, a sociedade foi organizada tendo como o topo a figura do Imperador, que detinha tanto os poderes político e militar quanto a supremacia religiosa, mas, dependendo da época, esse poder militar e consequentemente o político eram assumidos pelo Shogun. Em nome desde, e eventualmente do imperador, existiam os Daimiôs, os senhores faudais propriamente ditos, e estes controlavam um séquito de Samurais. Abaixo destes, quando sem um líder, vinham os Ronin. Sustentando a economia, vinham os Camponeses, a grande maioria, que incluía desde os agricultures e pecuaristas aos pescadores e demais pessoas sem posses. Depois, vinham os Artesãos que, apesar de fazerem os utensílios e ferramentas usados pelos demais, porque não produziam alimento eram mal-vistos. Por fim, vinham os Mercadores.[8]No Japão feudal, que grosso modo foi marcado pela predominância de uma classe guerreira, os samurais, o modo de vida estabeleceu-se para atribuir a cada classe social uma função típica e essencial para o funcionamento como um todo do sistema, mais ou menos enrijecido.
Nesta cércea, a despetio de sua condição privilegiada, na qual um samurai não trabalhava e era sustentado por um senhor, e as classes abaixo de si deviam-lhe respeito e deferência no cotidiano, durante os momentos em que não eram necessárias suas habilidades de combate, a eles não era permitido procurar outras atividades que não as próprias de sua classe/condição.[9]
Aperfeiçoando suas técnicas, os guerreiros praticavam diversas disciplinas: kenjutsu (manuseio de espada - katana), battojutsu (corte com a espada), iaijutsu (saque da espada), kyojutsu (emprego de arco), bojutsu (emprego de bastões), naginatajutsu (emprego da lança — naginata),sojutsu (emprego da lança - yari) e a luta desarmada.[10] Entrementes, a luta desarmada não recebia o nome jujutsu ainda, mas se desenvolveu como as demais disciplinas em escolas ou linhagens particulares, conhecidas por koryu ou kobudo.[11]. E, nesse meio tempo, as lutas desarmadas eram cognomeadas como torite (捕手?), kumiuchi (組討?), taijutsu (体術?), kogusoku koshinomawari (小具足腰之廻?) ou wajutsu (和術?).[12][13]
combate corpo-a-corpo surgiu, portanto, como consequência natural de um processo de aperfeiçoamento, tal como sucedeu em Oquinaua com a arte marcial palaciana Gotende, que era típica da elite do reino de Ryukyu.
Sucedeu, contudo, que sobreveio a Restauração Meiji, pelo que o último shogun perdeu prestígio e poder político-militar e com esse advento todo o modo de vida pretérito, a restarem em posição marginal tudo aquilo que o simbolizava: os samurais dasceram na escala social.[14] Por fim, durante a transição do século XIX ao XX, um mestre de jiu-jitsu com reconhecimento veio a modificar a arte marcial, inserindo-lhe e dando maior relevo a princípios filosóficos e pedagógicos: mestre Jigoro Kano criou o que, por motivos políticos, ficou conhecido como judô.[1]

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